sábado, 29 de outubro de 2011

Weber, Marcuse e o Agir Racional

Max Weber introduziu o conceito de “racionalidade” a fim de determinar a forma da atividade econômica capitalista, das relações de direito privado burguesa e da dominação burocrática. Racionalização quer dizer, antes de mais nada, ampliação dos setores sociais submetidos a padrões de decisão racional. A isso corresponde a industrialização do trabalho social, com a conseqüência de que os padrões de ação instrumental penetram também em outros domínios da vida (urbanização dos modos de viver, tecnicização dos transportes e da comunicação). Trata-se, em ambos os casos, da propagação do tipo de agir-racional-com-respeito-a-fins: aqui ele se relaciona à organização dos meios, lá à escolha entre alternativas. A planificação pode finalmente ser concebida como um agir racional-com-respeito-a-fins, de segundo grau: ela se dirige para a instalação, para o aperfeiçoamento ou para a ampliação do próprio sistema do agir racional-com-respeito-a-fins. A “racionalização” progressiva da sociedade está ligada à institucionalização do progresso científico e técnico. Na medida em que a técnica e a ciência penetram os setores institucionais da sociedade, transformando por esse meio as próprias instituições, as antigas legitimações se desmontam. Secularização e “desenfeitiçamento” das imagens do mundo que orientam o agir, e de toda a tradição cultural, são a contrapartida de uma “racionalidade” crescente do agir sócia.

Herbert Marcuse partiu dessa análise para mostrar que o conceito formal de racionalidade –que M. Weber tirou do agir racional-com-respeito-a-fins do empresário capitalista e do trabalhador industrial assalariado (...) [etc.] –tem implicações materiais determinadas. Marcuse está convencido de que, no processo que Weber chamou de “racionalização”, dissemina-se não a racionalidade como tal, mas, em seu nome, uma determinada forma inconfessada de dominação política. Visto que se estendo à escolha correta entre estratégias, ao emprego adequado de tecnologias e à organização de sistemas de acordo com fins (...) essa espécie de racionalidade subtrai à reflexão a contextura de interesses globais da sociedade –ao serem escolhidas as estratégias, empregadas as tecnologias e organizados os sistemas –, furtando-a a uma reconstrução racional (...) O agir racional-com-respeito-a-fins é, segundo sua estrutura, o exercício do controle. “Talvez o próprio conceito de razão técnica seja uma ideologia. Não apenas na sua aplicação, mas já a própria técnica é dominação (sobre a natureza ou sobre o homem), dominação metódica, científica, calculada. Não apenas de maneira acessória, a partir do exterior, que são impostos à técnica fins e interesses determinados –eles já intevêm na própria construção do aparato técnico; e técnica é sempre um projeto histórico-social; nela é projetado aquilo que a sociedade e os interesses que a dominam tencionam fazer com o homem e com as coisas. Tal objetivo da dominação é “material” e, nessa medida, pertence à própria forma da razão técnica.

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